Com a poesia de meu pai, crio este blog...com o objetivo de publicar cultura, tradição e apego as coisas da minha terra.(imagens e obras).(...para as más linguas...claro que vai ter relatos da minha jornada).

à todos um grande "quebra costelas" para espantar o velho "minuano" da vida.

terça-feira, 20 de maio de 2008

BRADO D'ARMAS

(Poema vencedor da Reculuta da Arte Nativa)

BRADO D'ARMAS
Francisco Miguel Scaramussa

Eu tinha treze anosquando me resolveram que eu iria estudar...
mui longe... no povo...
Minhas pilchas a mãe passou pro irmão mais novo...As puas e o rebenque “de luz” pachola,meu pai entregou também...

Nesse tempo, entendia tudo e todos da minha gente...
o linguajar nativo, o guapo entono de liberdade.
De como a lida de campo lembrava aprontes pra luta.
A cumplicidade campeira do trabalho,desde o relincho de baguais até o tilintar cadenciado das esporas.E os ideais mais simples tinham atropelos de cascos, na fartura!

Havia respeito e dignidade à memória da tradição.
Se enfrenava a defesa irmanada de idéias que honravam vidas,onde a lei se emponchava nestas razões que pariam tauras...
E essa magia legada me fazia sorrir!
E eu era feliz!

Mas chegou o dia da partida.
Os vizinhos mais velhos encorajando...- Volta doutor! Professor! Militar! Ou até padre!É dos nossos! Tem brado d'armas, o piá!
E os tios: - Escreva... mande notícias.Se “percisá” de alguma coisa, também...
E o pai: - Filho, seja sempre honesto, leal e franco!
E os avós: - Quando te largarem de férias... visita a gente!
O flete esperança ia encilhado, embodocado por dentro,como se rosetas lonqueassem a alma na despedida.

Depois... quartiei rondas nas letras,repontei horizontes nos livroscom ganas de conhecer melhor os homens e o mundo.
Tropiei nas ciências, me encontrei pedaços.
No rodeio dos números me achei um zero.Cada dia entendia menos...
Galopei nos verbos até o “perder identidade”.
Campiei na história e topei um chasque:“Deus fez o campo, os homens fizeram a cidade”.Perdido nela, meu potro saudade relinchava embretando solidão.

Nunca mais voltei pra minha gente.
Nas noites escutava as vozes dos poetas gaúchos, também saudosos,que em bordoneios sentidos e no ressongar aflito da cordeonapediam socorro ao infinito...
Com os mesmos anseios fui bebendo a luz das estrelas,com o silêncio do sereno em rondas sem escalas.De tanto olhar pro céu nestas noites do pampa,minha alma campeira criou asas... e fui subindo... subindo...cruzei pelas “Três-marias” do pajé charrua... cheguei até a “Boieira”.
E vi que a labareda é formada por tições de ideais e sentimentos da alma gaúcha!Cerquita do fogo... na roda de chimarrão... muitos da minha gente...
Havia escoltas de centauros de prontidão,com bandeiras farroupilhas em pontas de lanças.E numa tarca, os brasões e legendas de cada herói do pampa...

O Senhor Tempo, patrão de todos os mistérios e segredos,estava pilchado...
E seus olhos eram espelhos!Neles, me vi o piá de treze anos, antes da partida.
E só a alegria me sorria ... refletida...E as escoltas clamavam: - Brado D'armas.
Volta e repita: - Brado D'armas.Como ave grande com asas de aurorahoje rumbeio para minha gente,na recoluta de amor pela Querência,com Brado D'armas...
...Brado D'armas!

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