Com a poesia de meu pai, crio este blog...com o objetivo de publicar cultura, tradição e apego as coisas da minha terra.(imagens e obras).(...para as más linguas...claro que vai ter relatos da minha jornada).

à todos um grande "quebra costelas" para espantar o velho "minuano" da vida.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL

"A todos aos meus que a distancia separa,eu peço; que mesmo ao retrocesso,nao falte a saude e que se assim for rude,o suor e o cansasso nao lhe falte o abraço de quem sempre lhe espera".
(Ricardo Scaramussa)

PEDIDO DE NATAL

Aqui é um peão missioneiro,
que ao bom Deus faz um pedido;
sem querer ser atrevido
peço um pequeno presente.
E o Patrão, que é onipotente,
que a todos dá uma mão,
Lhe peço só um minuto
de Sua sagrada atenção.

Assim, com todo respeito,
eu Lhe faço meu pedido:
se não for tempo perdido
eu pediria ao Senhor,
se desaforo não for,
volteasse tempo e distância,
com Sua mão de bondade,
devolvesse minha infância.

Pois ficaria contente 
esta minha alma reúna,
que não liga pra fortuna,
só me basta ter saúde;
voltaria à infância rude
no meu pago missioneiro,
revendo alguns de meus sonhos
junto ao fogo galponeiro.

E na criança que fui,
correndo os campos do pago,
esta vontade que trago
de rever coisas passadas.
Saudade passa encilhada
com meus aperos e garras;
e o tempo puxando as rédeas
do meu flete de taquara.

Eu queria andar na estrada
- na garupa, meus brinquedos -
bem à vontade e sem medo,
nos bons tempos, sem violência.
E na minha doce inocência
marcaria a face nua
com um beijo simples e puro
na minha velha mãe chirua.

Neste pedido campeiro,
no meu sonho de criança,
eu faria esta minha andança
revendo cada momento;
queria correr com o vento,
nem que fosse só um pouquinho,
com a mão amiga de meu pai
a guiar o meu caminho.

Seria o melhor presente
para este peão do Senhor;
e assim, se preciso for,
reforçaria o pedido,
guardando junto comigo
um regalo sem igual,
pra completar a magia
desta Noite de Natal!

(Autor: Jorge Lima)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

ENART 2011

Declamação na finalíssima do ENART 2011, Francisco Miguel Scaramussa no poema "O Leilão" !!
Lindo conteúdo com uma fantástica mensagem!!!
http://www.youtube.com/watch?v=E8xSjtY_oNk&feature=share

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Galpao da Poesia Crioula



O Galpão da Poesia Crioula foi criado na sede da Casa do Gaucho em Santa Maria-RS no dia 19 de Setembro 1993, com a finalidade principal de congregar, prestigiar, promover e amparar por todos os meios ao seu alcance os poetas, declamadores e demais simpatizantes da Poesia Crioula do Rio Grande do Sul.

http://www.galpaodapoesia.13rt.com.br/

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

20 de SETEMBRO COM ORGULHO!!!














Como a aurora precursora

Do farol da divindade
Foi o 20 de Setembro
O precursor da liberdade

Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra
De modelo a toda Terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra

Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo

Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra
De modelo a toda Terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra

Que entre nós, reviva Atenas
para assombro dos tiranos
Sejamos gregos na glória
e na virtude, romanos

(Francisco Pinto da Fontoura)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

MEU PAI E EU

Eu fui criado assim, gato selvagem,
nos arredores da cidadezinha,
guri sempre fugido pros potreiros
onde pastavam vacas e cavalos;
e eu por eles já sentia estima
e esse fascínio que até hoje sinto.
Nenhum cuidado me zelava a vida,
queria era viver a liberdade
e aprendi a defender-me dos perigos
por puro instinto.

A importante pessoa dessa infância
foi meu pai.
Mas meu pai era assim, a lei, o aço,
o que não transigia em meus deveres.
Só sabe Deus o que terá passado
em sua vida pobre. O sofrimento
como que o dotara de uma carapaça
que o fazia parecer imune
à fome e à sede,
para que moldasse o corpo em argamassa.
Hoje penso que a força da cobrança
ensinou-me esgrimir contra a parede.

As suas bondades
eram dissimuladas aos meus olhos
que só o viam duro, teso e forte.
Pra mim, meu pai era um palanque
assentado à frente do seu rancho,
insensível ao frio ou ao cansaço,
incapaz de desviar-se do seu norte.

Nem nas amargas maldizia a vida,
nunca lhe ouvimos uma voz de queixa,
pois não se permitia comiseração.
Muito ao contrário, reagia duro:
a vida é luta, vence o mais capaz,
o que mais suar sobre seu eito,
o que mais cedo madrugar.
Em pequeno, muito vagamente,
lembro seu colo,
substituindo a mãe, que já se fora.
Mas essa imagem me é tão remota
que raras vezes a reconstituo.
O tempo que me vem mais à memória,
é o do guri que, mal a lei saía,
largava tudo pra voar na rua.

Eu amava meu pai e não sabia,
ou, se sabia,
tratava de ocultá-lo de mim mesmo.
As manifestações de afetos familiares
pareciam perturbar-me a natureza.
Eu era apenas um menino
que se omitia em demonstrar ternura
temendo que algum gesto de carinho
pudesse confundir-se com fraqueza.

Havia vezes em que eu o odiava
e o rejeitava, ao me sentir sozinho,
porque cobrava cada ato falho,
porque ralhava contra qualquer falta
que pudesse levar-me ao descaminho.

As palavras de meu pai eram tais ordens
que se devia cumprir de qualquer jeito.
Dessas palavras e dos gestos fortes
ficou-me para sempre esse preceito
do amor ao trabalho e à família;
mas o trabalho, nesses longes tempos,
era de sol a sol,
áspera trilha que se devia abrir
com toda força e renovado vigor,
a cada dia, a vida inteira.

Já a família se agrupava muito,
toda a pobreza era irmamente repartida
e a dor  e a enfermidade
eram veladas em conjunto.
A cada filho que se emancipava
suando seu salário,
o tratamento de meu pai ficava ameno,
talvez mais doce, um pouco mais sereno,
mas a cobrança seguia ao necessário.
Nunca o vi chorar.
Seus sentimentos eram tão cerrados
que foi preciso me fizesse homem
pra desvendar o seu amor imenso.
Essa descoberta veio aos poucos,
a idade chegara para todos,
a lei passou então a ser mais branda
e o cuidado talvez menos intenso.
Eu,
que me fiz adulto ates do tempo,
saí de casa como um filho sai,
sem saber o quanto a rua me ensinara
nem atinar a força da argamassa
que herdara de meu pai.
Nem eu mesmo sabia
de que pedra eu era feito.
Tinha meus sonhos
e a insegurança daquele que começa,
quando atirei a vida sobre os ombros
e parti para o mundo a me provar.
O medo de ser frouxo me assustava;
eu sabia que atrás de cada esgrima
havia uma parede que não me deixaria recuar.

Hoje a vida passou, vou cerro abaixo,
o corpo vai sofrendo seus estragos,
mas me alegra saber que o coração
é pedra doce - fácil de amoldar -
mas que sofre sozinho nos seus medos
e jamais reparte seus fracassos,
pois não lhe permitiram nunca
o direito de chorar.

É nessas horas que
meu velho volta
e me levanta na palavra:
"Assim é a vida, só vence quem lutar!
Aperta o coração, afirma o braço,
ergue a cabeça e segue em frente...
Lá é teu lugar!".
(Antonio Augusto Ferreira)

AQUI ESTOU, SENHOR INVERNO

Já sei que chegas, Inverno velho!
Já sei que trazes - bárbaro! O frio
e as longas chuvas sobre os beirais.
Começo a olhar-me, como em espelho,
nos meus recuerdos... Olho e sorrio
como sorriram meus ancestrais.

Sei que vens vindo... Não me amedrontas!
Fiz provisões de sábias quietudes
e de silêncios - que prevenido!
Vão-se-me os olhos nas folhas tontas
como simbólicos ataúdes
rolando ao nada do teu olvido.

Aqui me encontras... Nunca deserto
do uivo dos ventos e das matilhas
de angústias vindo sem parcimônias.
Chega ao meu rancho que estou desperto:
- sou veterano de cem vigílias,
sou tapejara de mil insônias.

Aqui estarei... Na erma hora morta,
junto da lâmpada, com que sonho,
não temo estilhas de funda ou arco.
Tuas maretas de porta em porta,
os teus furores de trom medonho
não trazem pânico ao bravo barco.

Na caravela ou sobre a alvadia
terra do pampa - cerros e ondas
meu tino e rumo não mudarão.
No alto da torre que o mar vigia,
ou, sem querência, por longas rondas,
não me estrangulas de solidão.

Tua estratégia de assalto e espera
conheço-a muito, fina e feroz:
de neve matas; matas de mágoa;
derramas nalma um frio de tapera;
nanas ausências a meia voz
e os olhos turvos de rasos d'água.

Comigo, nunca... Se estou blindado!
 Resisto assédios, que bem conduzes,
 no legendário fortim roqueiro.
 Brama as tuas fúrias de alucinado!
 - Fico mais calmo que as velhas cruzes
 braços abertos para o pampeiro.

 Os meus fantasmas bem sei que animas
 para, num pranto de vãs memórias,
 virem num coro de procissão
 trazer-me o embalo de velhas rimas.
 - À intimidade dessas histórias
 tenho aço e bronze no coração.

 Então soluças pelas janelas,
 gemes e imprecas pelos oitões,
 galopas louco sobre as rajadas,
 possesso, ululas entre procelas.
 E ébrio, nas noites destes rincões
 lampejas brilhos de punhaladas.

 Inútil tudo! Vê que estou firme.
 Nenhum receio me turba o aspeto,
 nenhuma sombra me nubla o olhar.
 Contigo sempre conto medir-me
 frio, impassível, bravo e correto
 como um guerreiro que ia a ultramar.

 Reconciliemo-nos, velho Inverno!
 Nem és tão rude! Tão frio não sou...
 Venha um abraço muito fraterno.
 Olha... Esta lágrima que rolou,
 não a repares... É de homenagem
 a alguém que aos céus se fez de viagem
 e nunca... nunca...
Nunca mais voltou!...

(Aureliano de Figueiredo Pinto)