"A todos aos meus que a distancia separa,eu peço; que mesmo ao retrocesso,nao falte a saude e que se assim for rude,o suor e o cansasso nao lhe falte o abraço de quem sempre lhe espera".
(Ricardo Scaramussa)
Aqui é um peão missioneiro,
que ao bom Deus faz um pedido;
sem querer ser atrevido
peço um pequeno presente.
E o Patrão, que é onipotente,
que a todos dá uma mão,
Lhe peço só um minuto
de Sua sagrada atenção.
Assim, com todo respeito,
eu Lhe faço meu pedido:
se não for tempo perdido
eu pediria ao Senhor,
se desaforo não for,
volteasse tempo e distância,
com Sua mão de bondade,
devolvesse minha infância.
Pois ficaria contente
esta minha alma reúna,
que não liga pra fortuna,
só me basta ter saúde;
voltaria à infância rude
no meu pago missioneiro,
revendo alguns de meus sonhos
junto ao fogo galponeiro.
E na criança que fui,
correndo os campos do pago,
esta vontade que trago
de rever coisas passadas.
Saudade passa encilhada
com meus aperos e garras;
e o tempo puxando as rédeas
do meu flete de taquara.
Eu queria andar na estrada
- na garupa, meus brinquedos -
bem à vontade e sem medo,
nos bons tempos, sem violência.
E na minha doce inocência
marcaria a face nua
com um beijo simples e puro
na minha velha mãe chirua.
Neste pedido campeiro,
no meu sonho de criança,
eu faria esta minha andança
revendo cada momento;
queria correr com o vento,
nem que fosse só um pouquinho,
com a mão amiga de meu pai
a guiar o meu caminho.
Seria o melhor presente
para este peão do Senhor;
e assim, se preciso for,
reforçaria o pedido,
guardando junto comigo
um regalo sem igual,
pra completar a magia
desta Noite de Natal!
(Autor: Jorge Lima)