Com a poesia de meu pai, crio este blog...com o objetivo de publicar cultura, tradição e apego as coisas da minha terra.(imagens e obras).(...para as más linguas...claro que vai ter relatos da minha jornada).

à todos um grande "quebra costelas" para espantar o velho "minuano" da vida.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

HERMANO

(Jayme Caetano Braun)
Seu nome - nunca se soube,nem ele mesmo sabia.Numa noite muito friadeu ô de casa na estância.Vinha de longa distânciados fundos da noite grande,mas nos galpões do Rio Grandeisso tem pouca importância.Ninguém lhe perguntou nomenem lugar de procedênciaque vinha de outra querênciase via no sufragante,um buenas noites vibrantede campeira fidalguiae a galponeira franquia:- ... Apeie... e chegue pra diante!O chapéu com barbicacho,negra e comprida melena,pele queimada, morenasem luxos na vestimenta,bombacha de brim - cinzenta,adaga e faca à cinturae um olhar misto ternuracom lampejos de tormenta.Mi nombre es Hermano, hermanosdisse - enquanto chimarreavaà peonada que escutavamui atenta - por sinal,e no mesmo tom casual,palmeando a cuia de mate,afirmou como arremate:- Soy de la banda Oriental!Desde essa noite o Hermanoficou na estância - ajudando,que o índio que anda cruzandonão se ajusta como peão,vai ficando no galpão- a velha casa reiúna -onde os párias sem fortunabuscam calor de fogão.
Sempre alegre e prestativo,naquele meio dialeto,era um gaúcho completo,de ação pronta e destorcida,demonstrando em qualquer lidaque era desses campechanosque já nasceram vaqueanosdos mil atalhos da vida.Depois que se enforquilhavano seu basto castelhanonem o bagual mais tiranosacava o índio dali.Aos gritos de ibi-bi-bi,ia surrando cruzadopulando mais que douradonas enchentes do Ibicuí!Cantava uma flor de truco,à velha moda gaúchae num jardeio - qüe pucha,sempre saía primeiro,corredor mui tarimbeiro,desses com sete sentidosque até parecem nascidosnas cruzes do parelheiro.Laçava... e como laçava,de a pé como de a cavalo,tanto fazia no pealo,ser sobre-lombo ou cucharra;companheiro numa farrados que não refugam nadae que mão aveludadapra pontear uma guitarra.Quando cantava se vianaquele olhar machucadoo pensamento empacadonalguma reminiscência,talvez a velha querêncialonge na barra pampeana...talvez alguma paisanadesgarronada na ausência...
Numa milonga macia,numa cifra - num estilonunca se viu como aquilotamanha fidelidade,ora olfateando saudadenuma nostalgia langue;ora farejando sanguenum berro de liberdade.Quando os dedos se perdiamentre a quarta e a bordonapareciam vir à tonabarbarescsa ressonâncias,clarins furando distânciasnum último chamamentoe laços cortando ventosno amanhecer das estâncias.Depois amaciava o trancocom patas aveludadase evocava madrugadascom luas e meias-luas;pôr-de-sóis nas pampas nuascom romances proibidosnos pelegos estendidospara divãs das chiruas!Sábado encilhava o baiorumbeando aos ranchos da estrada,beber ternura comprada,onde os párias vão beber,pois nesse meio viver,o índio sem parador,nunca encontra o bebedorda sanga do bem querer.Foi num Domingo de tarde,ao retornar de uma andança,a noite caía mansae o paisano vinha sério,o pensamento gaudérioperdido longe... distante,sem saber que, logo adiante,ia enfrentar o mistério.
Quando embicava no passoque faz fundo na invernada,já na boca da picada,o baio parou-se um gato,bufou com espalhafato,como prevendo tragédia,o índio bancou na rédea,já meio dentro do mato.Ouviu um - morre bandidodos covardes, de emboscada,já na primeira trovoadaplanchou-se o baio cabano.Baleado embora, o Hermano,ao se apartar do lombilhovinha puxando gatilhodum trinta e oito orelhano.Seis tiros dados no rumoe um alarido de morte.Depois, a sangueira fortee um frio que vinha do miolomas o índio era crioulo,teve um sorriso esquisito:- não ia morrer solito,pra o taura, é sempre um consolo.E ajoelhado, atrás do baio,parceiro de mil jornadas,já de pupilas vidradaspela morte repentina,passou-lhe a mão pela crina,como quem nana criançae um arrepio de vingançaescureceu-lhe a retina.Com três ou quatro balaçosbordando a pele morena,nem ouvia a cantinelae o fogonear dos balaços,meio de arrasto - c'os braços,rumbeou para o tiroteio:- galo fino - no careio,coloreando de puaços...
Era um gaúcho Orientale um Oriental não recua,honra a tradição charruae nem a morte o abala,no próprio sangue resvalamas segue no mesmo tranco,agora, de ferro-branco,porque jã não tem mais bala.Sente que a vista faltae uma bárbara dormência,mas resta-lhe uma incumbêncianessa noite de Domingo,se entrevera e - no respingo,mete a adaga em carne humana,gritando em voz insana:- esta les doy por mi pingo!Com vinte e tantos balaços,escoriações e facadas,as roupas esburacadas,já cego - e peleando aos gritos,como a confirmar os gritosdalgum Confúncio campeiro:- Covarde morre ligeiro,o taura, morre aos pouquitos.Três mortos - mais o Hermanoe o baio - morto encilhado,não foi identificadonem um só daquele trio,o restante, se sumiu,na imensidade campeira,deixando apenas sangüeirae o choro do vento frio.Nunca se soube o motivodaquela barbaridade,nem a própria autoridadenem gente da vizinhança.Foi com certeza, vingança,feita por gente mandada.Restam na velha picadaquatro cruzes por lembrança.

Seus nomes nunca se soube,três cruzes sem inscriçãodefronte - noutro munchão,uma cruz tem nome: Hermano.Descansa nela o paisanoque usava melena preta,um poncho azul de baeta,montava um baio cabano.E lá está a cruz de pau ferropalanqueando o castelhano,último adeus do Hermano,na tarde triste e cinzenta,ao ver a cruz - representaque a gente vê - na lonjura,seu olhar, misto ternura,com lampejos de tormenta.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Não sois máquinas! (Charlie Chaplin )

"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros.Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquinas! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos.Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou de um grupo de homens, mas dos homens todos! Estás em vós!
Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas! O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem! Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos."

segunda-feira, 6 de abril de 2009

"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei,
todos os amigos que se afastaram,
todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada,
apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

"por amor as causas perdidas"

Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca.
(Dom Quixote)